Há séculos a humanidade tenta compreender o sono. Perguntas como: “Para que serve o sono?” sempre estiveram presentes e nunca obtiveram respostas muito precisas. Entretanto, todos nós já experimentamos uma noite sem dormir e, no dia seguinte, é fácil perceber o desânimo, sonolência, raciocínio lento, desatenção e irritabilidade. Com o surgimento da “Medicina do Sono”, respostas estão sendo encontradas. Falamos em “algumas” respostas, pois o interesse da pesquisa médica pelo sono se consolidou há apenas 4 décadas, com o surgimento dos laboratórios de sono e pesquisadores dedicados exclusivamente ao tema. Neste período, o número de publicações médicas relativas ao sono quadruplicou e surgiram periódicos específicos para difusão do conhecimento adquirido. Inicialmente para comunidade médica e em seguida para a população geral
Os distúrbios do sono acometem pessoas de diversas faixas etárias em todo o mundo. Uma doença muito frequente é a apneia do sono. Esta doença ocorre pela dificuldade da via aérea manter o fluxo de ar necessário para a respiração, quando o indivíduo adormece e acomete tanto crianças quanto adultos. Para estes indivíduos a noite se transforma em uma batalha para tentar respirar e a consequência disto é a falta de descanso do organismo durante o sono.
No público infantil ela pode ser decorrente de obesidade, aumento das adenoides e/ou amígdalas.
No público adulto, vários fatores estão envolvidos, como: obesidade, herança genética, alterações da via aérea (desvios septais, aumento de amígdalas, aumento ou alteração de posição da língua…), gênero, fatores hormonais, etilismo e tabagismo, dentre outros. A doença costuma acometer indivíduos entre 35 e 60 anos de idade, com predomínio no sexo masculino (2-3 homens / 1 mulher). Entretanto, quando as mulheres atingem a menopausa, a incidência entre os sexos se iguala.
O principal sintoma da doença é o ronco e, na quase totalidade das vezes, o paciente não o percebe ou, se alguém o alerta sobre isso, ele não dá importância. Este ruído é a tradução sonora da dificuldade do ar adentrar o nariz e chegar até o pulmão e costuma ser interrompido de forma intermitente pelas paradas respiratórias (apneias), que geram grande angústia àqueles que observam a ocorrência do evento. Além do ronco e das paradas respiratórias, outros sintomas costumam estar presentes, como: sonolência diurna, sensação de cansaço, fadiga ou falta de ânimo, irritação e dor de cabeça ao acordar, necessidade de levantar várias vezes para urinar durante a noite, sensação de calor e sudorese durante o sono, engasgos ou falta de ar durante o sono, insônia e diminuição da libido.
O diagnóstico da doença é feito principalmente pela polissonografia (exame do sono). Neste exame, o indivíduo dorme em uma clínica (no período da noite) e é monitorizado. Desta forma, conseguimos informações objetivas acerca das alterações respiratórias (apneias, concentração do oxigênio no sangue…), cardiológicas (ritmo cardíaco), eletroencefalográficas (estágios do sono) e de eventuais movimentos involuntários que estejam se manifestando durante o sono.
Outra avaliação importante nos pacientes com distúrbios respiratórios do sono é morfologia da via aérea. A videoendoscopia nasofaringolaríngea é o exame que procura identificar estas alterações. Com este exame podemos identificar bloqueios que favorecem tanto o ronco quanto a apneia, quais sejam: alterações nas válvulas nasais, desvios septais, hipertrofias de conchas, hipertrofia de adenoides, hipertrofia de amígdalas, alterações de tamanho ou posicionamento da língua, deformidades da laringe, etc…Outros exames também podem ser utilizados na avaliação da via aérea: cefalometria (avalia a morfologia dos ossos da face), tomografia e ressonância magnética ( avaliam a morfologia da via aérea superior).
Uma vez feito o diagnóstico, cabe ao médico direcionar o paciente para o tratamento mais adequado. Não existe o melhor tratamento para o distúrbio respiratório do sono, mas sim o mais adequado para cada paciente individualmente. Apesar de várias pessoas receberem um diagnóstico semelhante (por exemplo, “apneia do sono”) os motivos para o desenvolvimento da doença costumam ser distintos. Nem sempre o que funciona bem para um funcionará bem para outro. Portanto é fundamental uma avaliação personalizada.
A importância de tratar a apneia do sono é que, além dos desconfortos que causa, ela também aumenta significativamente o risco de desenvolver: hipertensão arterial, infarto do miocárdio, arritmias cardíacas, acidente vascular cerebral e diabetes, entre outros.
Os tratamentos da apneia do sono podem ser divididos em quatro grupos: cirurgias, dispositivos intraorais, próteses ventilatórias e medicamentos.
As cirurgias podem ter os seguintes objetivos: emagrecimento (cirurgia bariátrica) ou aumento da permeabilidade da via aérea (cirurgias otorrinolaringológicas e craniofaciais). Os aparelhos intraorais têm como objetivo estabilizar a região da garganta, permitindo um fluxo de ar adequado. Já as próteses ventilatórias (CPAP ou BIPAP) pretendem garantir um bom fluxo de ar por meio de pressão positiva. Os medicamentos têm pouca aplicabilidade no controle da doença. Entretanto, alguns estudos apontam para um bom resultado da reposição hormonal em mulheres na menopausa e com uso do hormônio tireoidiano, como agente para reverter a doença em pacientes com hipotireoidismo sem controle.
Ronco e ApinéiaPortanto, se você se identificou com o quadro clínico descrito, procure um de nossos especialistas para uma avaliação. Melhore seu sono e evite outras doenças.