O pior inimigo é aquele que você não vê. Assim é a obstrução nasal, que pode minar sua saúde sem que você perceba.
Na filosofia oriental conhecida como yoga, é notória a importância dada à respiração e preocupante a constatação de que a grande maioria de nós não respira adequadamente.
O nariz assume uma posição central na face, destacando a importância atribuída a ele pela natureza. É o ponto de encontro de várias vias: os olhos, ouvidos e a boca se comunicam com a cavidade nasal. Faz fronteira com o cérebro e as órbitas. Tem a função de preparar o ar que vai até os pulmões e cumpre essa função das seguintes maneiras:
1 – Produz um muco viscoso que funciona com uma armadilha e tem a propriedade de aderir partículas inertes (pó) ou não (microorganismos em geral) em suspensão no ar. Além disso, sua composição química, que contem anticorpos, pode ser tóxica a determinados microorganismos patogênicos.
2 – Aquece o ar inalado.
3 – Umidifica o ar que chega aos pulmões.
O ar que os pulmões recebem após a preparação nasal é mais limpo, quente e úmido do que o ar ambiente. Isso permite que os pulmões possam realizar adequadamente a função para a qual estão preparados, a Hematose. A Hematose é um processo pelo qual o sangue é filtrado, recebendo oxigênio (O2) e eliminando o excesso de gás carbônico (CO2). No caso de haver diminuição da função nasal, os pulmões não podem realizar a Hematose em toda sua plenitude, pois não recebem um ar com a qualidade necessária. Assim, a composição química do sangue sofre alterações que podem repercutir sobre todo o organismo. Os pulmões e o coração podem sofrer consequências drásticas, nos quadros definidos como “cor pulmonale”. Cor pulmonale é a insuficiência cardíaca de origem pulmonar, irreversível, e que pode ser ocasionada por uma “simples” obstrução nasal. O nariz que funciona mal acaba provocando lesões pulmonares que, por sua vez, alteram o coração definitivamente, levando à insuficiência cardíaca e até a morte.
A respiração nasal deficiente pode se associar a uma chamada “respiração oral (ou bucal) de suplência”, quando o organismo utiliza, em excesso, a cavidade oral para fazer chegar ar aos pulmões. Embora respirar ocasionalmente pela boca seja normal, especialmente durante a realização de esforço físico intenso, a utilização demasiada desta via alternativa pode ser problemática. A respiração bucal ocorre principalmente durante a noite, quando estamos inconscientes e o organismo acaba escolhendo uma via respiratória de menor resistência para ventilar os pulmões. Nessa situação, a passagem de mais ar pela boca do que deveria pode diminuir a saliva que tem um equilíbrio ácido – básico específico (PH). A composição química da cavidade oral então se altera, o que pode comprometer a saúde dentária e provocar halitose (mal hálito).
Além disso, a arcada dentária sofre alterações conferindo, ao respirador bucal, uma estrutura facial alterada e anomalias ortodônticas variadas. Muitas vezes, em caso de colocação de aparelhos ortodônticos, se uma alteração respiratória não for percebida, acaba ocorrendo um prolongamento do tempo de uso do aparelho e, após a retirada do mesmo, há uma tendência exacerbada do retorno da arcada para as posições anômalas originais.
Até aparência estética facial do respirador bucal é característica, com uma desproporção entre os terços faciais. Ou seja, a estética facial de um respirador oral não é original: seria outra em caso de respiração predominantemente nasal. Um respirador oral possui “uma face que não é a dele”.
Outros problemas podem estar associados. Noites mal dormidas e um sono de baixa qualidade acabam impactando negativamente na qualidade de vida. Queixas comuns que podem estar associadas a uma respiração nasal deficiente são: cansaço excessivo durante o dia, baixa capacidade de memorização, irritabilidade, dores de cabeça e sobrepeso.
As obstruções nasais podem se instalar abruptamente (traumatismos com consequentes desvios septais), quando são prontamente notadas. Porém, mais comumente, ela ocorre de forma lenta e gradual, de modo que temos tempo para nos acostumar, de nos “mal adaptarmos”. Sabidamente o ser humano é altamente adaptativo: por exemplo, é onívoro e vive a temperaturas extremas tanto negativas quanto positivas. Certamente é uma vantagem competitiva, mas pode funcionar negativamente em algumas situações, quando insistimos, e às vezes conseguimos, nos adaptar a quase tudo. Por exemplo, dentro das inúmeras opções de alimentação e temperatura, certamente podemos e devemos escolher opções alimentares ou ambientais mais propícias à saúde e à longevidade. Ou seja, podemos nos acostumar com o que é bom, mas também com o que é ruim, principalmente se o processo adaptativo ocorre aos poucos e lentamente. Isso exige atenção. Viciados em drogas fazem uso destas substâncias porque assim se sentem bem. Estão mal acostumados. Um indivíduo viciado em heroína, por exemplo, quando privado abruptamente da droga, pode desenvolver um quadro caracterizado por vômitos, diarreia, febre alta, alucinações, convulsões e até morte. O tabagismo faz mal, mas fumantes se sentem bem enquanto insistem em prejudicar sua saúde.
O grande problema é que a maioria das obstruções nasais não são percebidas por serem de instalação lenta, somente as tardias consequências delas sobre a saúde. Por isso é clássico o caso do paciente que, após perceber uma melhora da respiração nasal diz: “doutor, só agora percebo como eu era doente!”.
Outro aspecto que deve ser considerado é com relação às causas da obstrução nasal. Passando por uma rinite alérgica até um câncer de nariz, varias outras doenças podem se manifestar pela obstrução nasal, quais sejam: hipertrofia de adenoides (”carne esponjosa”), hipertrofia de amígdalas, hipertrofia de cornetos desvio septal, sinusite crônica, polipose nasal, etc.. Mas o nariz é uma cavidade estreita e longa e que não pode ser investigado em sua plenitude sem o auxílio de exames complementares como a videoendoscopia nasal ou tomografia. Os dois fatores em conjunto, quais sejam a adaptação às obstruções nasais de instalação insidiosa e a inacessibilidade do nariz a visualização direta contribuem para o crescimento de doenças de modo silencioso, imperceptível por longo tempo. Por exemplo, existem alguns cânceres que surgem no fundo das cavidades nasais e que, por não estarem à vista, demoram para serem diagnosticados e, quando isso acontece, muitas vezes a situação se complica, já que a proximidade do nariz com os olhos e cérebro acaba permitindo a disseminação da doença para estas regiões.
Portanto, se você tem dificuldades de respirar pelo nariz, usa a boca para auxiliar na respiração, acorda com a garganta ressecada, sente muito sono durante o dia, apresenta problemas pulmonares, sente dores de garganta frequentemente, cansa fácil durante o esforço físico, sempre deita para o mesmo lado ao dormir, costuma perceber os ouvidos tampados, observa pequenos sangramentos nasais, sente dores ou peso na face, se o nariz é muito sensível a mudanças de temperatura ou até mesmo à ingestão de líquidos gelados, você pode estar convivendo com esse inimigo oculto.